quinta-feira, 26 de maio de 2016

SITUAÇÃO DO ESPÍRITO DESENCARNADO - Por Lúcia Loureiro


O transe da morte é sempre um estado de crise para qualquer indivíduo, variando conforme o adiantamento moral de cada um.


Daí a passagem do estado da matéria para a vida espiritual acarretar uma espécie de perturbação mais ou menos longa, até que se quebrem todos os elos entre o Espírito e sua organização física.


Essa crise é um fenômeno natural. Pensemos na hipótese de alguém ter de mudar, abruptamente, do Nordeste brasileiro para um país europeu ou vice versa. 

A mudança repentina implicaria um distúrbio tal no indivíduo, que este levaria algum tempo para se descondicionar do ambiente anterior e se adaptar às novas e diferentes condições de vida. 

Que diremos, então, da morte em que o fenômeno de desagregação do corpo processa uma modificação muito mais violenta? Além disso, vários fatores intervêm na situação do desencarnado logo após a morte: a idade em que ocorreu a desencarnação (jovem ou idoso?), o tipo de morte (natural ou violenta? ), se era apegado ou desprendido dos bens materiais, se tinha bons hábitos ou vícios inveterados, se possuía idéias materialistas ou espiritualistas. 

Daí a necessidade do adormecimento do Espírito, logo após o desprendimento do corpo físico, para se refazer do transe da morte.

Antes, porém, que o Espírito adormeça, ocorre o interessante fenômeno de recordação da vida passada, em que um panorama desfila ante seus olhos. 

Tem-se notícia de que, em fração de segundo, o Espírito revê, minuciosamente, todos os fatos da vida terrena que acabou de deixar, cena após cena, desde a infância até a desencarnação, desde o incidente mais insignificante até o acontecimento mais importante. 

Naquele momento, o Espírito é capaz de avaliar causas e consequências de todos os seus atos, sejam bons ou maus, como um registro para aproveitamento em vidas futuras. Só depois, sobrevêm o sono cujo tempo varia de Espírito para Espírito.

O juiz John Worth Edmonds, que era notável médium psicógrafo, falante e vidente, escreveu longa mensagem de seu amigo desencarnado, o juiz Peckam, a quem ele muito estimava. Nessa época ainda não era conhecido pelos psicólogos o fenômeno da visão panorâmica. Afirma, então, o Espírito Peckam:

No momento da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda a minha existência. Todas as cenas, todas as ações que eu praticara passaram ante meu olhar, como se se houvessem gravado na minha mentalidade, em fórmulas luminosas. 

Nem um só dos meus amigos, desde a minha infância até a morte, faltou à chamada. Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha mulher, apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água, mostrando uma energia, cuja natureza só agora compreendo. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Por seu turno, o Espírito que em vida se chamou Dr. Horace Abraham Ackley relata como se passaram os primeiros momentos após o seu despertamento no Mundo Espiritual: Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente. 

Foi todo o meu passado que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Muitas pessoas indagam: Como é possível alguém que passa por incontáveis "mortes", experimenta o estado de erraticidade e reencarna várias vezes, esquecer que existe o Mundo Espiritual? Explicam, então, os Espíritos codificadores que a situação de esquecimento ou perturbação nunca é definitiva. Ela é transitória, e a lembrança, mais ou menos rápida, das vidas anteriores dependerá do grau de evolução de cada Espírito. C. W. Leadebeater, em Auxiliares Invisíveis, comenta sobre o mal que os ensinamentos errôneos a respeito da condição do Espírito após a morte provocam na Humanidade, principalmente no mundo ocidental. 

Certas religiões assustam os seus adeptos, criando neles muita perturbação e surpresa quando chegam no Mundo Espiritual. Conta ele o exemplo de um inglês que, em uma mensagem transmitida três dias depois de morto, narrou que, encontrando um grupo de Espíritos amigos, perguntou:

— Mas, se eu estou morto, onde é que estou? Se isto é o céu, não me parece grande coisa; se é o inferno, é melhor do que eu esperava!Surpresa semelhante tem o Espírito Monsenhor Robert Hugh Benson. Relata ele, em A Vida nos Mundos Invisíveis, obra recebida pelo médium Anthony Borgia, que, durante todo o período que sucedeu a sua última desencarnação, nenhuma idéia lhe ocorrera sobre tribunal de julgamento ou juízo final como sugerira a religião ortodoxa. 

Esses conceitos e os de céu e inferno lhe pareceram totalmente impossíveis e, na realidade, fantasias absurdas.



Em A Vida no Outro Mundo, seu autor, Cairbar Schutel, combate a idéia de que nada existe após a morte e que se o Espírito não é imortal, (...) a vida é uma farsa que começa no berço e se acaba no túmulo. Como vimos anteriormente, os Espíritos levam consigo, para o Além-Túmulo, as qualidades boas ou más, todos os vícios e costumes e todos os conhecimentos e aptidões. Os criminosos vêem-se mergulhados em profundas trevas e só ouvem os lamentos de suas vítimas. 

Os suicidas só têm, na mente, o seu ato tresloucado. Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, no capítulo intitulado Uma Paixão de Além-Túmulo, reporta-se ao suicídio, por amor, de um garoto de 12 anos de idade. Perguntado sobre sua situação, o jovem responde:

(. . .) Meu corpo lá estava inerte e frio e eu planava em volta dele; chorava lágrimas quentes. Vocês se admiram das lágrimas de uma alma. Oh! Como são quentes e escaldantes! Sim, eu chorava, porque acabava de reconhecer a enormidade de meu erro e a grandeza de Deus!. . . Entretanto, não tinha certeza de minha morte; pensava que meus olhos se fossem abrir . . .

O sofrimento dos Espíritos desencarnados é proporcional ao tipo de vida que levaram e ao maior ou menor apego que tenham à vida material. Durante a crise da morte, eles lutam para reter a vida corporal que lhes foge, e esse sentimento se prolongará por muito tempo. 

Aqueles muito ligados à vida material erram pelas vizinhanças do lar e do local do trabalho; julgam-se ainda vivos e pretendem participar dos negócios de que se ocupavam quando encarnados. Os viciados e libertinos continuam a sentir enorme ansiedade e procuram a convivência de devassos que lhes saciem os apetites sexuais e os vícios. O avarento fica em estado de angústia, por não poder impedir que os herdeiros esbanjem a fortuna amealhada durante a vida terrena.

Em Primeiras Impressões de Um Espírito, mensagem transmitida pelo Espírito Delphine de Girardin à médium Sra. Gostel na Sociedade Espírita de Paris, consta, dentro da sua perspectiva, o seguinte: Falarei da estranha mudança que se opera no Espírito após a libertação. 

Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo? A ausência das sensações primárias produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim dizer. 

Assim como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma, aliviada de repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois o espaço infinito, as maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessá-los, o sentimento da libertação que inunda, de súbito, a necessidade de lançar-se também, no espaço como pássaros que querem treinar suas asas, tais são as primeiras impressões que todos nós sentimos. (Revista Espírita, de Allan Kardec, novembro de 1860, n° 11)

Temos informações, através de várias mensagens, que, no Além, assim como no Aquém, existem vagabundos, saltimbancos e fanfarrões. Existem, da mesma maneira, aqueles que se propõem a auxiliar os companheiros atrasados e, ainda, os que preferem trabalhar pelo seu próprio aprimoramento. Sócrates e Platão disso já tinham conhecimento e afirmavam:

A alma impura, nesse estado, encontra-se pesada, é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, segundo se diz, ao redor dos monumentos e dos túmulos, juntos dos quais foram vistos, às vezes fantasmas, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estar inteiramente puras, e que conservam alguma coisa de forma material, o que permite aos nossos olhos percebê-las. 

Essas não são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses lugares, onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a errar, até que os apetites inerentes às suas respectivas formas materiais façam-nas devolver a um corpo. Então, elas retornam, sem dúvida aos mesmos costumes que, durante a vida anterior, eram de sua predileção. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec)

Como Deus não se compraz com o sofrimento eterno de seus filhos, passada uma fase de depuração dos fluidos mais densos, sobrevêm ao Espírito o sono reparador a que estão sujeitos todos os recém-chegados ao Mundo Espiritual. 

Nesse momento, Espíritos amigos e familiares recolhem os recém-desencarnados e os levam para as diversas estações de repouso. Ao despertar desse sono — que pode variar de horas a séculos —, o Espírito desencarnado começa a perceber o que está em sua volta. Surpreende-se ao encontrar um ambiente muito semelhante ao da Terra. Por esse motivo, muitos pensam que ainda estão vivos.

E, só a partir de uma tomada de consciência da realidade em que se encontram, surgirão para eles novas oportunidades: estudos, tarefas, trabalho assistencial, tudo de acordo com o seu adiantamento espiritual, sua capacidade e suas necessidades. 

Comentando as palestras familiares que estabelece com o Além-Túmulo, Allan Kardec diz a respeito da desencarnação:

Extinguindo-se as forças vitais, o Espírito se desprende do corpo no momento em que cessa a vida orgânica. Mas separação não é brusca ou instantânea. Por vezes começa antes da cessação completa da vida; nem sempre é completada no instante da morte. Sabemos que entre o Espírito e o corpo existe um liame semi-material, que constitui o primeiro envoltório. Este liame não se quebra subitamente. 

E, enquanto subsiste, fica o Espírito num estado de perturbação comparável ao que acompanha o despertar.



(. . .) ao entrar no mundo dos Espíritos é acolhido pelos amigos que o vêm receber, como se voltasse de penosa viagem. Se a travessia foi feliz, isto é, se o tempo de exílio foi empregado de maneira proveitosa para si e o elevou na hierarquia do mundo dos Espíritos, eles o felicitam. Ali reencontra os conhecidos, mistura-se aos que o amam e com ele simpatizam, e então começa, para ele, verdadeiramente, a sua nova existência. (Revista Espírita, abril de 1959, no 4, de Allan Kardec)

Na erraticidade, o Espírito não adquire, imediatamente, o saber e a virtude; antes, conserva sua inteligência ou ignorância, idéias, concepções, ódios ou afeições. O que se abala com o desligamento do corpo é a memória, e a sua lucidez retornará segundo o nível moral do desencarnado e à medida que se apagam as impressões terrenas. 

Se o Espírito errante tem bons propósitos, ele progride nos aspectos intelectual, moral e espiritual, podendo trazer-nos, mais tarde, as notícias das Colônias Espirituais onde estagiou, uma vez que, enquanto recebe tratamento no corpo perispiritual, o Espírito desencarnado se instrui.

Devido à diversidade de nossos caracteres, — aptidões, sentimentos, vícios, virtudes e hábitos — as condições de vida no Além são de uma diversidade infinita, daí as diferenças no conteúdo das mensagens. 

Existem, também, Espíritos tão evoluídos e depurados (Espíritos puros ou perfeitos) sobre os quais a Terra não mais exerce atração. Estes habitam as regiões menos densas e só reencarnam para cumprir missões especiais, como aconteceu com Jesus, Buda e Confúcio, além de outros grandes missionários.

Todavia, há Espíritos que não se incorporam a nenhum movimento nobre; vivem na Terra da Liberdade que é uma região, segundo informam os Espíritos, próxima à crosta terrestre, onde os desencarnados se entregam a mais completa indisciplina. 

Cada um faz o que quer e age de acordo com o livre-arbítrio, sem quaisquer restrições morais. A tônica de suas vidas é a liberalidade. Muitas vezes, reencarnam sem passar por estágios nas Colônias de recuperação e sem analisarem as vidas anteriores. Nos Mundos Espirituais superiores, os Espíritos continuam a agir dentro do seu livre-arbítrio, porém de acordo com padrões morais elevados.

Segundo Allan Kardec, ao tratar dos Possessos de Morzine: Sendo a Terra um mundo inferior, isto é, pouco adiantado, resulta que a imensa maioria dos Espíritos que a povoam tanto no estado errante, quanto no de encarnados, deve compor-se de Espíritos imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do Mal na Terra. 

Ora, sendo a Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do Mal que torna os homens infelizes, pois se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. E' um estado ainda não alcançado por nosso globo; e é para tal estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens de bem, quer da parte dos homens quer da dos Espíritos, são consequências deste estado de inferioridade. 

Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos: aí se encontram a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação. (Revista espírita, de Allan Kardec, n2 12, dezembro de 1862 )

Assim, o fundamental para nós é saber que a Terra nada mais é que um pálido reflexo do Mundo Espiritual e que ambos se encontram na mesma faixa vibratória. Allan Kardec, em mensagem transmitida, após a sua morte, na residência de Miss Anne Blackwell, em Paris, em 14 de setembro de 1869, confirma os ensinamentos que em vida recebeu dos Espíritos em palestras familiares: Sou tão feliz como nem podeis pensar, meus bons amigos, por vos encontrar reunidos. Estou entre vós, numa atmosfera simpática e benevolente, que agrada ao mesmo tempo o meu espírito e o meu coração. Há muito tempo que eu desejava ardentemente o estabelecimento de relações regulares entre a escola francesa e a escola americana.

(... ) O Espíritos conservam no Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos. Os Espíritos dos americanos mortos são ainda americanos, como os desencarnado que viveram na França são ainda franceses no Espaço. Daí as diferenças dos ensinos em alguns centros. Cada grupo de Espíritos, por sua própria natureza, por seu espírito nacional, apropria suas instruções ao caráter, ao gênio especial daqueles que o dirigem. (Revista Espírita, de Allan Kardec, na 6, junho de 1869)

Sendo assim, conclui-se que o processo da morte não é necessariamente doloroso, embora, muitas vezes, os que presenciem o desenlace de algum amigo ou parente observem a luta do moribundo para conservar o Espírito no corpo. Aos olhos físicos a impressão é de a pessoa estar sofrendo intensamente, mas essa se constitui, apenas, uma visão terrena, dos que ainda permanecem do lado de cá. A realidade é bem outra.

1 - Sensações nos Espíritos Errantes

Tratando do momento em que o Espírito deixa o corpo e penetra no Mundo Espiritual, Allan Kardec lhes analisa, em vários artigos da Revista Espírita, as sensações e o desenvolvimento das idéias. Muitas perguntas lhe tinham sido feitas, como: Sofrem os Espíritos? Que sensação experimentam? Em O Livro dos Espíritos, o codificador da Doutrina Espírita dedica um longo capítulo a esse tema e que tem por título Ensaio Teórico Sobre as Sensações nos Espíritos. Responde ele, então, com base em informações dos Espíritos e, principalmente, em suas próprias observações e nos estudos das funções do perispírito:

Ensina-nos a experiência que, no momento da morte, o perispírito se desprende, mais ou menos lentamente do corpo; durante os primeiros instantes o Espírito não se dá conta da situação; não se julga morto; sente-se vivo; vê o corpo ao lado, sabe que é seu, mas não compreende que do mesmo esteja separado. Esse estado dura enquanto existe uma ligação entre o corpo e o perispírito.

Recordemos a evocação do suicida da casa de banhos da Samaritana, (. . .) Como todos os outros , ele dizia: "(. . .) entretanto sinto que os vermes me roem". Ora, seguramente, os vermes não roem o perispírito e, ainda menos, o Espírito; apenas roem o corpo. Mas como a separação entre corpo e Espírito não era completa, o resultado era uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que passava no corpo. Repercussão talvez não seja o vocábulo, o qual poderia fazer supor um efeito muito material: era antes a visão daquilo que se passava em seu corpo, ao qual estava ligado o seu perispírito que lhe produzia uma ilusão, que tomava como realidade. (Revista Espírita, de Allan Kardec, n° 11, novembro de 1858)

Dessa forma, as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito, assim como as desagradáveis. Em suas pesquisas, Allan Kardec entrevistou milhares de Espíritos que pertenceram a todas as camadas sociais e a todas as posições, seguindo-lhes os passos desde a desencarnação, a fim de estudar as mudanças que sofreram na vida além-túmulo. Nos planos inferiores da Espiritualidade, os Espíritos manifestam desejos e apetites. Já o mesmo não se dá com aqueles cujo perispírito é menos denso.

2 - Alimentação dos Espíritos

Se as pessoas duvidam que os Espíritos se vestem, que pensarão elas a respeito da existência de alimentos no Mundo Espiritual? Entretanto, os Espíritos errantes sentem fome. Na maioria das vezes, os desencarnados, logo após o desligamento do corpo físico, são atormentados pelo desejo de satisfazerem suas necessidades fisiológicas, como sede e fome incontroláveis. Para atendimento dessas necessidades básicas, afirmam os Espíritos que existem fábricas de concentrados de frutas e sopas sujeitos à manipulação específica da Espiritualidade.

Nos hospitais das Colônias, alimentos são fornecidos aos enfermos, a fim de se revigorarem. Esses manjares espirituais, segundo informações do Outro Mundo, possuem gosto e aroma que não têm similar na Terra. Nos centros de reeducação para onde são conduzidos os Espíritos recém-chegados do Umbral, faz parte do tratamento a ingestão, pelos enfermos, de alimentos semelhantes aos terrenos, porém menos densos, até que se adaptem a sistemas de sustentação das Esferas Superiores. Allan Kardec transcreve a mensagem do Espírito Cura de Bizet que se sentiu chocado com as cenas que presenciou no Mundo Espiritual:

Se não vim imediatamente ao vosso meio, é que a perturbação da separação e o espetáculo novo com que fui chocado não mo permitiram. E, depois, não sabia a quem escutar; encontrei muitos amigos cujo acolhimento simpático me ajudou poderosamente a me reconhecer; mas também tive sob os olhos o atroz espetáculo da fome entre os Espíritos. Encontrei lá em cima muitos desses infelizes, mortos nas torturas da fome, ainda procurando em vão satisfazer uma necessidade imaginária, lutando uns contra os outros para arrancar um pedaço de comida que se esconde nas mãos, se entrerasgando e, se assim posso dizer, se entredevorando; uma cena horrível, pavorosa, ultrapassando tudo quanto a imaginação humana pode conceber de mais desolador! . . . ( Revista Espírita, de Allan Kardec, n° 6, junho de 1868)

Em Memórias de um Suicida, psicografado por Yvonne A. Pereira, um Espírito que fora hospitalizado na Colônia, relata o seguinte: A cada um de nós foi servido delicioso caldo, tépido, reconfortante em pratos tão alvos quanto os lençóis; e cada um sentiu o sabor daquilo que lhe apetecia. Fato singular: enquanto fazíamos a refeição frugal, era o lar paterno que acudia às nossas lembranças, as reuniões em família, a mesa da ceia, o doce vulto de nossas mães servindo-nos,

O Espírito André Luiz declara na obra Nosso Lar que, recém-chegado ao Mundo Espiritual, recebeu igual tratamento: A essa altura, serviram-me caldo reconfortante, seguido de água muito fresca, que me pareceu portadora de fluidos divinos. Aquela reduzida porção de líquido reanimava-me inesperadamente. Não saberia dizer que espécie de sopa era aquela; se alimentação sedativa, se remédio salutar. Entretanto, segundo colocações deste mesmo Espírito, não só os convalescentes têm necessidade de alimentos. Os trabalhadores das Colônias recebem, regularmente, a sua cota de provisões:

Cada habitante de Nosso Lar recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; (. . .). Situação bastante curiosa é essa necessidade de os Espíritos reberem alimentos já manufaturados, exatamente como ocorre na vida terrestre, uma espécie de cesta básica que os setores públicos socialistas costumam fornecer à população. Mais tarde, em Evolução em Dois Mundos, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, o Espírito André Luiz se propõe a uma avaliação científica de como se verifica a alimentação dos Espíritos desencarnados, da qual destacamos alguns trechos:

Encarecendo a importância da respiração no sustento do corpo espiritual, basta lembrar a hematose no corpo físico, pela qual o intercâmbio gasoso se efetua com segurança, através dos alvéolos, nos quais os gases se transferem do meio exterior para o meio interno e vice-versa, atendendo à assimilação e desassimilação de variadas atividades químicas no corpo orgânico. O oxigênio que alcança os tecidos entra em combinação com determinados elementos, dando, em resultado, o anidrido carbônico e a água, com produção de energia destinada à manutenção das províncias somáticas. (...)

Abandonando o envoltório físico na desencarnação, se o psicossoma está profundamente arraigado às sensações terrestres, sobrevêm ao Espírito a necessidade inquietante de prosseguir atrelado ao mundo biológico que lhe é familiar, e, quando não a supera ao peso do próprio esforço, no auto-reajustamento, provoca os fenômenos da simbiose psíquica, que o levam a conviver, temporariamente, no halo vital daqueles encarnados com os quais se afine, quando não promove a obsessão espetacular.

O Espírito David Hatch, autor da obra Cartas de um Morto Vivo, recebida pela médium Elsa Barker afirma que, de acordo com a sua visão do Mundo Espiritual, uma das coisas que mais interessa aos desencarnados é a alimentação. Assegura que os Espíritos errantes comem e bebem; absorvem, principalmente, muita água, pois é um ótimo alimento para o perispírito que capta sua ação benéfica. Informa que os corpos perispirituais se encontram impregnados de umidade. Muitos Espíritos já informaram que a água tem imenso valor no Mundo Espiritual. E esse líquido poderoso veículo de fluidos de qualquer natureza, sendo utilizado, também, como medicação. Segundo ele, já sentira, certa feita, a ação magnética da água que lhe provocou um delicioso e revigorante bem estar.

Reporta-se o Espírito David Hacht a um encontro com um jovem desencarnado que recepcionou a noiva ao desencarnar. Durante os primeiros dias após a desencarnação, a moça, ainda subjugada pelos hábitos terrenos, queixava-se continuamente de fome; ele tentava satisfazê-la dando-lhe uma substância tênue como alimento. Outra experiência interessante foi a que vivenciou ao conhecer certa senhora desencarnada que lhe fez, entre outras queixas da sua vida no Além, a mais esquisita — confessa — que ouvira. Inquirindo a nova conhecida sobre sua atual estada, recebe a seguinte revelação:

— Olha, primeiro que tudo acho essa gente horrível. Lembro-me ainda de pensar, quando vivia em... que ao menos no Outro Mundo não iria encontrar donas de pensões, nem as competentes criadas e descuidadas e preguiçosas, e afinal aqui são absolutamente a mesma coisa, se não forem piores. (Cartas de Um Morto Vivo, de Elsa Barker) Surpreso com tais respostas e tão intrigantes revelações, insiste o Espírito David Hacht com mais perguntas ao que a senhora responde no mesmo tom, estabelecendo-se o seguinte diálogo:

DH — Que me diz! Pois vive aqui numa pensão?
E — Onde quer que eu viva? Bem sabe que não sou rica. (...)
DH — Que tal é a mesa na sua pensão? E — É pior do que na última onde estive na Terra.
DH — As refeições são pouco abundantes?
E — São pouco abundantes e não prestam, sobretudo o café.
DH — Diga-me uma coisa, servem-lhe aqui as três refeições a que estava habituada na Terra?
E — O senhor tem uma maneira estranha de se exprimir. Não noto nenhuma diferença especial entre este mundo e a Terra, como lhe chamam, a não ser a falta de conforto, por tudo ser inconstante e incerto.
DH — Isso mesmo, continue.
E — De manhã nunca sei ao certo quem estará sentado ao meu lado à tarde. Andam num constante vai-vem.
DH — E que come?
E — As coisas do costume - carne e batatas, pastéis e pudins.
DH — Continua ainda a comer isso?
E — Pois claro; o senhor não come?



Eis, aí, portanto, a situação de um Espírito profundamente condicionado à vida que levou na Terra, de tal modo que nenhuma explicação o faria entender que não mais precisava se preocupar com certas questões tão insignificantes. Fato curioso no campo da alimentação é narrado pelo Espírito Monsenhor Robert Hugh Benson, na obra A Vida nos Mundos Invisíveis, quando visitou, com seu grupo de pesquisa, levado pelo anfitrião, um pomar muito bem cuidado:

As frutas eram perfeitas na forma, ricas em cor, e pendiam em grandes cachos. Colheu algumas e ofereceu-nas, assegurando que nos fariam bem. Eram frescas ao tato e notavelmente pesadas para seu tamanho; o sabor, delicioso, a polpa, macia, sem ser difícil nem desagradável de tocar, e uma quantidade de suco semelhante ao néctar, escorria delas. 

Meus dois amigos observavam-me atentamente enquanto eu comia umas ameixas, ambos revelando uma expressão de jovial expectativa. Sendo abundante o suco, que temia que escorresse sobre minha roupa. Escorria sim, mas não a manchava, o que me maravilhou, provocando o riso de meus amigos. Apressaram-se, então, a explicar que, estando eu num mundo incorruptível, tudo quando não se aproveita é imediatamente devolvido ao elemento de origem. (. . .)

As frutas daquele pomar não eram apenas para os que necessitassem de algum tratamento após a morte física, mas estavam à disposição de quem quer que os desejasse comer pelo seu efeito estimulante. Na obra que ditou ao médium Isaltino Barbosa — Um Espírito Através do Cosmo — o Espírito Castro Lopes, extasiado com Mundo Espiritual, descreve seus frutos como... (. . .)proporcionais às árvores em que são gerados, de sabor delicadíssimo e alguns semelhantes aos da Terra como a melancia e a laranja.

Todavia, os Espíritos chamam a atenção dos encarnados para o fato de que, nas faixas superiores da Espiritualidade, o corpo não tem necessidade de alimentação, no sentido que entendemos. À proporção que se aproxima das esferas mais elevadas, o Amor, que é o verdadeira substância de nutrição das almas, torna-se mais intenso e menos denso, constituindo-se no maior sustentáculo das criaturas. Daí o preceito evangélico: Amai-vos uns aos outros.

3 - Vida Sexual dos Espíritos

Após a desencarnação, homens e mulheres continuam, no perispírito, com os órgãos sexuais, mas estes não conservam as mesmas funções que possuíam na Terra. Todos os Espíritos errantes nutrem os sentimentos e emoções inerentes à sua condição. 

O que não há, evidentemente, é a procriação. Isso só ocorre no plano terrestre, onde as Leis Divinas impulsionam o macho e a fêmea, através do instinto e do amor, a colaborar na criação. Entretanto, a problemática sexual continua, não no sentido terreno, pois todos se encontram desembaraçados do corpo físico; não desaparece, uma vez que é a fonte da vida.

Como regra geral, o Espírito, ao desencarnar, conserva, na erraticidade, a forma perispiritual da última encarnação. Talvez, por algum condicionamento ou necessidade, o Espírito permaneça na condição de homem ou mulher. Informa o Espírito Silveira Sampaio, na obra O Mundo em que Eu Vivo, psicografado por Zíbia M. Gasparetto, que alguns desencarnados têm extrema dificuldade de mudar qualquer característica física da última encarnação. Todavia, como regra geral, os Espíritos errantes podem manipular o perispírito a seu bel-prazer e de acordo com as lembranças de vidas passadas que mais lhes agradarem.

O Espírito Johannes, que não aceita as leis reencarnacionistas, dá, na obra Rumo às Estrelas, de autoria de Herbert Dennis Bradley, o seu parecer a respeito da diferença de sexos: Nenhum dos dois (masculino ou feminino) é superior ou inferior ao outro. Tais explicações não podem aplicar-se às metas de um todo. A mulher é a mesma coisa aqui e aí. E o poder que cria os ideais do homem. E o grande ser criador, não só de novos seres, como de novos pensamentos. Sua responsabilidade é ainda maior que a do homem. Não somente a mulher dá ser aos filhos, como realmente cria os altos ou baixos ideais do ser masculino (. . .).

A mulher sobrevive como alma feminina; o homem como alma masculina. Devo observar, porém, que o que na Terra chamais amor nada tem a ver com isto. O Amor existe de muitas maneiras.O Sexo é uma lei; o Amor uma inspiração. Compreendei a distinção e nunca os confundais. No dia 25 de abril de 1862, em reunião na Sociedade Espírita de Paris, o Espírito J. Sanson, recém-desencarnado, evocado por Allan Kardec, dá a sua explicação sobre o assunto:

P. Os Espíritos não têm sexo. Entretanto, como ainda há poucos dias séreis um homem, tendes neste novo estado uma natureza mais masculina do que feminina? Acontece o mesmo com o Espírito que tivesse deixado seu corpo há muito tempo?
R. Não temos de possuir natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os criou pela sua vontade, e se, nos seus maravilhosos desígnios, quis que os Espíritos se reencarnem na Terra, teve de acrescentar para isso a reprodução das espécies por meio das condições próprias do macho e da fêmea. Mas vós o sentis, sem necessidade de nenhuma explicação — os Espíritos não podem ter sexo. (O Céu e o Inferno, de Allan Kardec) Melhores esclarecimento temos em O Livro dos Espíritos, na resposta que Allan Kardec obtém dos Espíritos à pergunta 201:

P. O Espírito que animou o corpo de um homem, em nova existência pode animar o de uma mulher e vice-versa?
R. Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.
Os Espíritos se encarnam homens ou mulheres porque eles não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhe oferece provas e deveres especiais, além da oportunidade de adquirir experiência. Aquele que fosse sempre homem não saberia senão o que sabem os homens.

Outra informação interessante a respeito do sexo dos Espíritos é encontrada na Revista Espírita, de Allan Kardec, publicada em janeiro de 1866: Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no Mundo Espiritual. (...) Aos homens e às mulheres, são, assim, destinados deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.

Na obra O Sexo Além da Morte, seu autor, R. A. Ranieri, através de desdobramentos, visita zonas da Espiritualidade em que se encontram criaturas profundamente envolvidas com problemas sexuais que lhes impedem a marcha ascensional. Segundo suas observações, estão elas de tal forma arraigadas às práticas aberrantes e viciosas, que apresentam o perispírito totalmente deformado. 

São Espíritos errantes que abusaram do sexo e que continuam, após a desencarnação, com os mesmos hábitos. Condicionados a práticas libidinosas, vivem nos bordéis terrenos, usufruindo dos prazeres sexuais, juntamente com os encarnados com que têm afinidade, em processos obsessivos recíprocos.

Nestes Espíritos, denominados de vampiros pelo professor J. Herculano Pires, os apelos sexuais são tão intensos, que os desequilibram psiquicamente; as entidades denominadas de íncubos e súcubos(ÍNCUBOS: seres espirituais, com características masculinas, que mantêm relações sexuais com mulheres; no seu oposto estão os SÚCUBOS, que seduzem os homens.), responsáveis por terríveis obsessões, pertencem a essa categoria. 

Na obra Sexo e Destino, ditada pelo Espírito André Luiz, através dos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, temos informação da existência do Hospital-escola Almas Irmãs. Instituição destinada a socorrer Espíritos desencarnados de todas as idades e de ambos os sexos, necessitados de reeducação sexual, está sediada em quatro quilômetros quadrados de edifícios e arruamentos, parques e jardins.

É, na realidade, uma pequena cidade. Levado pela curiosidade, o Espírito André Luiz pede informações ao instrutor Neves a respeito do Instituto. Esclareceu, então, que a agremiação possuía uma diversidade de habitantes: desde os alienados reclusos em manicômios até os remanescentes de tragédias passionais já pacificados e de aparência hígida. 

No Hospital-escola os enfermos têm, como tema central de estudos, o sexo, pesquisado e enobrecido nas inúmeras Faculdades de ensino e desdobrado em especialidades, tais como: sexo e amor; sexo e matrimônio; sexo e maternidade, sexo e estímulo, sexo e equilíbrio; sexo e medicina; sexo e evolução; sexo e penalogia.

Podemos deduzir das informações dos Espíritos que, no Além-Túmulo, continuam a atração sexual, os ciúmes e outros sentimentos, bem mais intensos entre os insensatos que cometem sua dose de insensatez antes de atingir estádios elevados de desenvolvimento.

Em Cartas de um Morto Vivo, o Espírito David Hacht depara com um desencarnado que casara duas vezes na Terra. Estando todos desencarnados, viviam as esposas em litígio a reclamar a posse do marido que não tinha sossego. O marido, por sua vez, sentia-se, ainda, atraído pela segunda esposa e, de alguma forma, afeiçoado à primeira. O Espírito David Hacht se torna muito amigo deste trio singular.

Conta ele que, certa feita, as esposas lhe solicitaram o arbítrio: Com qual delas deveria o esposo ficar? Lembrou-se, então, da resposta do Cristo aos saduceus a uma pergunta semelhante: Quando ressuscitarem de entre os mortos, não casarão, nem serão pedidos em casamento; devem ser como anjos do Céu. Querendo que eles entendessem que, na condição em que se encontravam, não deveria haver o sentimento de posse e nem utilizariam os órgãos sexuais com a mesma finalidade do casamento terreno.

Nos planos superiores da Espiritualidade, não existe o sexo como vulgarmente conhecemos, porém, objetivando o programa reencarnacionista, realizam-se planejamentos de uniões de almas, a fim de criar oportunidades de burilamento e progresso. Nos seus relatos, os Espíritos errantes falam dos diálogos que os futuros esposos mantêm em seus passeios pelos jardins das Colônias Espirituais a projetar as próximas encarnações.

4 - Sentimentos e Emoções nos Espíritos desencarnados

Os diversos sentimentos e emoções, positivos ou negativos, cultivados pela humanidade terrena se transferem para a Mundo dos Espíritos. Isso já se deduz de tudo quanto vimos em temas aqui tratados anteriormente. O ódio, o orgulho, a inveja, a avareza, a luxúria, a dedicação, a tristeza, a fraternidade, a alegria entre outros. Até mesmo lágrimas os desencarnados derramam para manifestar o que lhes vai no íntimo.

Os Espíritos comunicantes insistem em esclarecer aos que ainda permanecem na Terra sobre a situação dos desencarnados no Mundo Espiritual. Já Foi dito que a diversidade de caracteres é infinita, a depender de cada indivíduo, de suas vidas anteriores, das atitudes e hábitos que conservou. Encontramos, na Revista Espírita, de Allan Kardec, em seu n° 4, de abril de 1859 os seguintes esclarecimentos:

Há sensações que têm por fonte o próprio estado dos nossos órgãos. Ora, as necessidades inerentes ao corpo não e podem verificar desde que não exista mais corpo. Assim, pois, o Espírito não experimenta nenhuma fadiga, como nenhuma das nossas enfermidades. As necessidades o corpo determinam necessidades sociais, que para eles não existem. Assim não mais existem as preocupações dos negócios, as discórdias, as mil e umas tribulações do mundo e os tormentos a que nos entregamos para nos proporcionarmos as necessidades ou as superfluidades da vida. Eles têm pena do esforço que fazemos por causa de futilidades. Entretanto, quanto mais felizes são os Espíritos elevados, tanto mais sofrem os inferiores.

Mas esses sofrimentos são angústias; e, embora nada tenham de físico, nem por isso são menos pungentes: eles têm todas as paixões e todos os desejos que tinham em vida (referimo-nos aos Espíritos inferiores) e seu castigo é o de não poder satisfazê-los. Isto é para eles uma tortura que julgam eterna, porque sua própria inferioridade não lhes permite ver o término, o que é para eles um castigo.

Faz parte do aprendizado dos estudantes desencarnados a observação de comportamento dos Espíritos na erraticidade. Há os que alcançaram um equilíbrio e se dedicam à obras beneficentes, como, também, os apegados aos locais de opróbrio e de vícios. Os que abusam do álcool rondam as tabernas terrenas, imantados a encarnados que abusam da bebida. Outros arrastam, durante longos períodos, sofrimentos intoleráveis, criados pela própria mente dementada. Conservam sentimentos vis; continuam a mentir e a instigar conflitos entre os encarnados.

Suas feições, assim como todo o corpo, tomam características hediondas que, segundo informações do Mundo Espiritual, causam pavor. São Espíritos malignos que espalham a sua perversidade, contaminando os desavisados que se encontram, de qualquer forma, impregnados de sentimentos inferiores e paixões repugnantes. Alimentam-se eles de emanações venenosas desprendidas da excitação colérica e dos fluidos animalizados dos seus semelhantes. Esses Espíritos necessitam, quase sempre, de um tratamento nos dois planos — espiritual e terreno — através de uma doutrinação segura e constante.

Yvonne A. Pereira, em Recordações da Mediudade, dedica o capítulo 10 ao problema das obsessões resultantes do assédio dos Espíritos sobre os encarnados e alerta para a importância do trabalho e esclarecimento e reabilitação que deve ser realizado por especialistas no assunto. Diz ela que:

Um dos mais belos estudos que o Espiritismo faculta aos seus adeptos é, certamente, aquele a que os casos de obsessão nos arrastam. Temos para nós que esse difícil aprendizado, essa importante ciência de averiguar obsessões, obsessores e obsidiados deveria constituir especialidade entre os praticantes do Espiritismo, isto é, médiuns, residentes de mesa, médiuns denominados passistas, etc. assim como existem médicos pediatras, oculistas, neurologistas, etc., etc., também deveriam existir espíritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, visto que a estes será necessária uma dedicação absoluta a tal peculiaridade da Doutrina, para levar a bom termo o mandato.

Tal ciência, porém, não se poderá limitar à teoria, e querendo antes paciente e acurada observação em torno dos casos de obsessão que se apresentem no limite de Ação de cada um, pois é sabido que a observação pessoal, a prática no exercício do sublime mandato espírita enriquece de tal forma os nossos conhecimentos em torno de cada caso com que nos defrontamos que, cada um deles, ou seja, cada obsidiado que se nos depare em nossa jornada de espíritas, constituirá um tratado de ricas possibilidades de instrução e aprendizado, visando à cura, quando a cura seja possível.

O Espírito David Hacht, em Cartas de um Morto Vivo, apresenta um caso de avareza; espetáculo repulsivo que presenciara de um desencarnado. Narra o fato e analisa as consequências da ambição no Mundo Espiritual. Assistiu ele a um... (. . .) avarento a contar o seu dinheiro, e vi os olhares terríveis dos Espíritos espreitando avidamente o seu menor movimento. O ouro possui uma influência especial além do seu poder de aquisição e de tudo que se lhe acha ligado. Há Espíritos que amam o ouro como o avarento, com a mesma paixão avassalante, ambiciosa, que nada satisfaz.

Entretanto, no Além-Túmulo há, também, aqueles que dedicam seu tempo ao auxílio e ao progresso geral, pois já cultivam bons sentimentos, como o Amor, a Caridade e a Fraternidade. Entre eles não há lugar para a inércia e a preguiça. 

A prece, o trabalho, a alegria e os ideais superiores fazem parte do seu cotidiano. São os benfeitores do Espaço, aliados das Esferas Superiores, que recebem a tarefa de instruir Espíritos mais atrasados e aspiram à dignidade do Mestre Jesus.


Lúcia Loureiro -  Publicado no site www.acasadoespiritismo.com.br/

segunda-feira, 16 de maio de 2016

OS CRISTÃOS PRIMITIVOS CHAMAVAM O ESPIRITISMO DE PNEUMATOLOGIA

Na Bíblia, os fenômenos mediúnicos são conhecidos como  proféticos. E entre os primeiros cristãos, eles eram chamados também de pneumáticos, adjetivo esse derivado do substantivo grego “pneuma” (espírito). 


E, hoje, os fenômenos com espíritos, além de serem denominados mediúnicos, são também assim  chamados.


Porém, o que importa mais são os fenômenos em si, e, principalmente os bíblicos, de que procuraremos demonstrar alguns exemplos.

A Bíblia, de Gêneses até o Apocalipse, está cheia de fenômenos pneumáticos ou mediúnicos. “A lei foi anunciada pelos anjos.” (Atos 7: 53). Ora, anjos são espíritos enviados ao nosso mundo. Todo anjo é espírito (“pneuma”), mas nem todo espírito é anjo.

Se Moisés proíbe o contato com os espíritos (Deuteronômio cap. 18), é porque esse contato existe de fato. E ele fala de espíritos dos mortos e não dos tais de “diabos”. E aqui cabe um esclarecimento. Os anjos e demônios são os mesmos espíritos humanos, os já bem evoluídos que são os bons (anjos) e os ainda atrasados que são os maus. Mas, o grego é a língua em que foi escrito o Novo Testamento. 

E, nessa língua, “daimones” são espíritos humanos bons e maus. No singular é “daimon”.  Porém, como só se retiram “daimones” maus das pessoas, pois “daimones” bons não nos atormentam, passou-se a entender erradamente que todo “daimon” é mau! E assim, com o decorrer dos séculos, convencionou-se chamar os espíritos maus de demônios.

Há até uma tradição popular que nos demonstra que, na Bíblia, os espíritos são mesmo da mesma natureza dos “daimones”, ou seja, a que fala em anjo bom e anjo mau. E eis outro exemplo desse fato: Por analogia com o corpinho morto de uma criança, é comum as pessoas denominam-na de anjinho.

“Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário” (Salmo 51: 12). Não se trata do Espírito do próprio Deus nem do Espírito Santo dogmático da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas de um espírito, bom, voluntário (um “daimon” bom). 

E lembramos aqui que o Espírito Santo bíblico é uma espécie de coletivo designando todos os espíritos. E, nesse caso bíblico, poderíamos dizer que o Espírito Santo de Daniel é um dos espíritos humanos representados pelo Espírito Santo bíblico, mas não o do dogma. (Daniel 13: 45 da Bíblia Católica).

Um espírito de um homem macedônio apareceu a Paulo dando-lhe orientação sobre uma viagem. (Atos 16: 9). É um espírito manifestante bom,  não o do próprio Deus.

  “Eis que meterei nele um espírito e ele, ao ouvir certo rumor, voltará para a sua terra; e nela eu o farei cair morto à espada.” (2 Reis 19: 7). O espírito não é o de Deus.

  “...O espírito de Elias repousa sobre Eliseu.” (2 Reis 2: 15). Não se trata também do Espírito do próprio Deus que é recebido pelo grande médium Eliseu.

  “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele.” (Efésios 1: 17). Igualmente, aqui, o espírito enviado e recebido não é o do próprio Deus. 

Os exemplos dados escapam da maquiagem que fizeram na Bíblia para esconder os fenômenos mediúnicos ou pneumáticos, grandemente divulgados, hoje, pela Doutrina Espírita. 

E, na sua Vulgata Latina, são Jerônimo (princípio do século 5º) preferiu corretamente a tradução de “spiritus bonus” (espírito bom) à de Espírito Santo!

PS: Farei palestra no C.E.Joana de Ângelis, em 22-5-2016, às 19h, Rua São Manoel, 567, Vila Rosália, Guarulhos, Grande São Paulo - SP

 José Reis Chaves é escritor e palestrante Espírita



sexta-feira, 6 de maio de 2016

A PREDESTINAÇÃO, O AMOR E O SEMPITERNO PRESENTE DO PROJETO DE DEUS

Usamos, de preferência, o adjetivo português sempiterno, em vez de eterno, porque pelos termos bíblicos originais, em grego, “aionios” e “aêon”, e no latim da Vulgata Latina de são Jerônimo, “eternitas”, eles têm o sentido de tempo indeterminado e não de sem fim ou para sempre, como foram traduzidos. 



Se o significado fosse de tempo sem fim, as palavras apropriadas seriam “olam” em hebraico; “aidios” em grego; e “sempiternus” em latim derivado de “semper” (sempre).

Mas vamos ao assunto principal desta coluna de hoje. Sem exceção, Deus predestinou todos os seus filhos para a glória e a felicidade perenes e para sempre, por todas as eternidades. “Mas a misericórdia de Deus é de eternidade a eternidade.” (Salmo 103: 17). 

Sim, por tempos ou ciclos indeterminados, iniciando-se outro, logo que um chega ao fim e, assim, indefinidamente. Por isso, podemos chamá-los de tempo sempiterno de felicidades. 

E toda a criação de Deus é de um sempiterno presente de amor. “Não deixarás minha alma no inferno” (Salmo 15: 10).  Ora, se Deus não vai nos deixar no inferno, é porque vamos estar nele ou até já possamos estar, mas o certo é que não vamos ficar nele para sempre! O inferno é, pois, para nós eterno (tempo indefinido), mas não sempiterno (para sempre). 

Melhor dizendo, o inferno poderá ficar em nós por uns tempos, mas não para sempre, pois o reino de Deus é que, um dia, ficará em nós para sempre, já que o das trevas que está ainda dentro de nós é que é eterno ou passageiro e não sempiterno! 

Como já dissemos: “Mas a misericórdia de Deus é de eternidade a eternidade.” (Salmo 103: 17), isto é, em todas as eternidades ou em todo o tempo sem fim ou sempiterno presente de Deus, cuja misericórdia jamais cessa, pois é infinita.

Além disso, os nossos pecados ou faltas não fazem mal a Deus, mas aos nossos semelhantes e, por consequência, a nós mesmos que os cometemos. “Se pecas, que mal lhe causas tu?”; “Se as tuas transgressões se multiplicam, que lhe fazes?” (Jó 35: 6); “Se és justo, que lhe dás ou que recebe ele da tua mão?” (Jó 35: 7); e “A tua impiedade só pode fazer mal ao homem como tu mesmo, e a tua justiça dar proveito ao filho do homem.” (Jó 35:  8).

A doutrina da predestinação de Calvino que ensina que Deus criou uma parte dos espíritos para a salvação e outra para a condenação é, pois, um absurdo que não podemos atribuir a Deus que é um ser de perfeição e amor infinitos e que não faz, portanto, acepção de pessoas. “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas.” (Atos 10: 34); e “Deus é amor.” (1 João 4: 8). Ademais, como foi dito, Deus é imutável, não tendo o bem e o mal que fizermos nenhuma influência sobre Ele. 

E, por ser Ele amor infinito, não discrimina nenhum de seus filhos, e já nos criou todos de fato predestinados, mas para a alegria e a felicidade sempiternas. “Nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos...” (Efésios 1: 5); e “O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.” “Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira.” (Salmo 103: 8 e 9).

E até ousamos dizer que a doutrina da predestinação é uma blasfêmia contra Deus, já que ela atribui a Ele o absurdo de Ele criar parte de seus filhos predestinados para o sofrimento sempiterno, o que seria totalmente incompatível com seus atributos de misericórdia e amor infinitos!


José Reis Chaves é escritor e palestrante e apresenta o programa “Presença Espírita na Bíblia”, www.tvmundomaior.com.br .

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A REGENERAÇÃO, A MISERICÓRDIA E O AMOR DE DEUS PREEXISTEM A NÓS

Os atributos e decisões de Deus são sempiternos, permanentes, sempre presentes e imutáveis. 

Assim, antes de sermos criados, a nossa regeneração, o amor e a misericórdia da parte de Deus para conosco já existiam. 

José Reis Chaves

Não foi, pois, por obras boas praticadas por nós, mas de fato de graça, pois ainda não existíamos. 


Porém, podemos receber agora essas benesses gratuitas de Deus bem ou mal, pois isso depende de nosso livre-arbítrio. E para recebê-las bem, temos que vivenciar o evangelho. Sim, pois Jesus não veio perder o seu tempo de trazê-lo para nós.

Sobre isso, vejamos um texto da carta de são Paulo a Tito (3: 5). E, para deixarmos mais claro seu conteúdo, fazemos uns parêntesis: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça praticadas por nós (pois ainda não existíamos), mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (nosso que se purificou).” 

Nosso corpo é santuário de um Espírito Santo.” (1 Coríntios 6: 19) O lavar regenerador feito pela nossa vivência evangélica leva-nos à nossa regeneração, evolução, aperfeiçoamento através da palingenesia (período das reencarnações), por meio do evangelho de Jesus Cristo. 

E, por oportuno, São Paulo não conheceu o Espírito Santo do dogma trinitário, que só foi criado mais tarde pelos teólogos. (Mais detalhes em meu livro “A Face Oculta das Religiões”, lançado também em inglês nos Estados Unidos).

A nossa regeneração, como já foi dito, já aconteceu. 

E cabe a nós, agora, fazermos a nossa parte, na nossa peregrinação terrena durante as reencarnações através da vivência do evangelho. Aliás, a nossa regeneração, no citado texto paulino, significa exatamente a concretização da nossa moral cristã baseada no ensino moral do evangelho.

Ora, se a nossa regeneração vem de Deus, mas se completa através da prática do evangelho, como acabamos de ver, mas se mais alguma coisa ainda nos falta, para que ela se concretize tornando-se uma realidade atualizada lá no final dos tempos, no Juízo Final, é mesmo a nós mesmos que cabe fazermos o que nos falta, pois, realmente, Deus e Jesus já fizeram tudo o que lhes cabia fazer e do melhor modo possível. 

E, agora, é mesmo conosco. Ou vamos seguir uma religião da preguiça?

Nós fomos criados por Deus semelhantes a Ele, em espírito e em perfeição. Mas essa perfeição foi só em estado de potencialidade ou de semente. 

E estamos procurando concretizar essa semelhança, não a igualdade, com Deus, através da palingenesia (período das reencarnações), ao longo dos milênios. Mas atentemos para o fato de que, com somente uma vida terrena, nós não conseguiríamos nem começar a construir essa semelhança com Deus, a qual é a nossa longa regeneração. 

Por isso, precisamos mesmo de muito tempo, ou seja, de muitas reencarnações para realizarmos essa nossa regeneração com o lavar regenerador do nosso próprio Espírito Santo.

E aqui nos vem uma pergunta. Se houvesse uma vida só terrena para o nosso Espírito Santo ser lavado por meio da nossa real vivência do evangelho, como ficaria uma pessoa que morresse ainda criança ou até nascesse já morta? 

Não vale dizer que se trata de um mistério de Deus, explicação essa dada pelos teólogos para justificar a criação por eles, e não por Deus, de doutrinas misteriosas e confusas!

José Reis Chaves - escritor e palestrante 



segunda-feira, 18 de abril de 2016

O que é ser humilde? Saiba como a humildade vai te ajudar a ter uma vida melhor

Por Regis Mesquita do Blog Caminho Nobre
A Bíblia traz alguns trechos muito interessantes para quem quer entender o que é ser humilde.  

Cito dois:
"...a si mesmo se humilhou" (Fl 2.8).
"...agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei" (Sl 40.8).
Vamos entender estes trechos sob a ótica da espiritualidade e não da ideologia que transforma pessoas pobres em humildes.

Você nasceu para aprender e sabe que quando você aprende sua vida fica melhor. Todo aprendizado acontece mais facilmente quando a pessoa é humilde.

Para ser humilde ela tem que sair do orgulho. Sob o ponto de vista do orgulhoso, o humilde é aquele que se humilha. Sob o ponto de vista do humilde, o orgulhoso é aquele que não se humilha voluntariamente. Parece confuso? Vou explicar melhor.
 Jesus lavou os pés dos apóstolos. Naquele tempo, isto era um ato de humilhação. Lavar os pés era um ato reservado para quem tinha as piores condições sociais.

“Jesus, quando lavou os pés dos apóstolos, mostrou que ele podia ser tudo. Podia ser quem ensinava, o que sabia, o que era servido e o que servia. Ele servia ao próximo em todas as posições sociais, até as mais discriminadas. Ele oscilava de papel e posição. Esta é a verdadeira humildade.” (trecho do ebook – “A espiritualidade no dia-a-dia)
Frente ao orgulho, Jesus se humilhou. Frente à sabedoria, Jesus mostrou que tinha poder de ser o que Ele queria e que não era prisioneiro de preconceitos e nem de discriminações.

A humildade é uma forma inteligente de retomar o poder da própria vida e usá-lo para produzir o que é nobre.  
É como se Jesus dissesse: “se é importante para minha evolução espiritual lavar os pés de vocês e mostrar que devo servir sempre, é isso que faço. Sou livre. Eu não dependo de aprovação social para fazer o que é nobre”.

“Dizem que havia um rei que morreu de fome porque não preparou sua própria comida. E porque não preparou a comida que lhe salvaria? Porque na sua cultura era humilhante preparar comida. Quando o rei se perdeu na selva, ele morreu de fome. Não soube mudar de papel e nem assumir outras posições, de acordo com a nova realidade em que vivia.” (trecho do ebook – “A espiritualidade no dia-a-dia)

Característica da humildade: capacidade de ocupar diversas funções e papéis sempre que a realidade assim necessitar.

O rei não pode fazer comida, porque era prisioneiro de uma ideologia e, orgulhoso, não queria se humilhar - o erro fatal.  
A humildade favorece o reconhecimento do erro. O importante é a realidade; ou seja, o importante é aprender com a realidade e assim desenvolver qualidade e habilidades.
O rei poderia ter aprendido que as crenças da sua cultura são limitadas e erradas. Poderia ter aprendido e sobrevivido. Não teve humildade e morreu.

Você já passou por inúmeros conflitos em que você ou outra pessoa estavam erradas e o orgulho impedia que reconhecesse o erro e solucionasse o conflito.  
O orgulho perpetua muito sofrimento. A humildade ajuda a solucionar.  
Humildade está diretamente relacionada com a capacidade de aprender, servir e avaliar corretamente a realidade.

Sem estas qualidades a vida fica mais difícil. Traduzindo: orgulho torna a vida mais difícil e complicada; a humildade simplifica.

Observe a reflexão abaixo:

“Ao invés de ter compulsão por estar certo tenha um imenso esforço para acertar.
Fazer bem feito, ampliar o conhecimento e a sabedoria, desenvolver a sensibilidade...
Tudo isto é atingido progressivamente.
Se você quer abrir uma "fábrica de acertos" é preciso ter humildade e olhar para suas próprias limitações.
Quem reconhece suas próprias limitações pode usar a disciplina para superá-las.
Portanto, muitos acertos dependem de se admitir um erro.”
(Reflexão originalmente postada em: https://www.facebook.com/nascervariasvezes/ )

A vida da pessoa humilde é melhor porque ela reconhece suas limitações. Assim, pode usar a disciplina para se melhorar.

Existem outros ganhos: menos stress e menos tensão. Quem aprende e passa a acertar aumenta a própria motivação e tem mais serenidade. Uma vida melhor, não é?  
A humildade gera prontidão e vontade de aprender e evoluir. Em outras palavras, as pessoas humildes tornam-se preparadas para escutar e enxergar.

Repare na segunda frase da Bíblia: "...agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei" (Sl 40.8).  
Dentro do meu coração – significa o conhecimento que emerge de dentro para fora. Uma sintonia, uma conexão.  
Demonstra a valorização do escutar. O resultado é que a pessoa humilde estimula e valoriza suas intuições e sua sensibilidade.  
Intuição e sensibilidade são ótimos recursos que todas as pessoas possuem para melhorarem a própria vida.

Todavia, deve-se estar pronto para escutar e valorizar o que vem do “fundo da alma”. E o que vem do fundo da alma muitas vezes é diferente do que o ego valoriza ou deseja.

Esta pessoa está preparada para escutar, valorizar e seguir junto com as informações que chegam “do coração”.  
Esta é a razão pela qual a Bíblia diz que “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu”. A pessoa humilde segue o que é bom, correto e nobre.  
A pessoa humilde não fica presa nos limites do seu ego imaturo. Ela vai além, ela escuta, valoriza e vai junto com o que existe de mais nobre: o Caminho Nobre.

A pessoa orgulhosa busca uma valorização acentuada de si mesmo (alguns orgulhosos se depreciam). O humilde não prioriza a autovalorização; prioriza aprender e viver bem a realidade. 

“É preciso muita humildade para aceitar o seu lugar no Universo. É necessário mais humildade ainda para se manter neste lugar durante todos os momentos de provações. Este lugar pode ser traduzido por manter-se (o corpo e a mente) vibrando o que existe de mais nobre e elevado na vida. Lembre que o ser humano é um processador e retransmissor de energias”. (trecho do ebook – “A espiritualidade no dia-a-dia)


“A palavra humilde tem uma raiz indo-europeia, que é “húmus”. Significa “o solo sob nós”, isto é, estamos todos no mesmo nível.” Mario Sergio Cortella  
Estamos no mesmo nível. Eu posso aprender com você e você comigo. Eu posso te servir e você pode me servir. Eu posso te ajudar e posso ser ajudado por você. 

O caminho natural da humildade é a TROCA de ajuda, conhecimento, serviço, etc.  Desta forma, todos ganham, todos colaboram e ninguém precisa se preocupar em ser mostrar melhor porque existe o compartilhar e a cooperação.  
Quer criar à sua volta um ambiente de troca e cooperação? Comece por se mostrar interessado na troca, sendo humilde para receber o que vem do outro e compartilhar o que existe de melhor em você.

Humildade serve para criar este ambiente mais saudável para uma vida com menos julgamentos e mais aceitação e construção.

Autor: Regis Mesquita




segunda-feira, 11 de abril de 2016

PALINGENESIA VEM DO GREGO E É SINÔNIMA DO CICLO REENCARNATÓRIO


Voltamos à palingenesia, porque os numerosos comentários no www.otempo.com.br o exigem. 




Sua etimologia vem de duas palavras gregas “palin” (de novo) e “genesis” (geração): de movo em geração; regresso à vida depois da morte, o que deixa claro que se trata da reencarnação, mas está traduzida erradamente na Bíblia por regeneração, que é uma consequência das gerações ou reencarnações, mas  não a própria regeneração.      

Para o professor de grego, doutor em Bíblia em Roma, o padre Carlos Torres Pastorino, autor de “Sabedoria do Evangelho” (oito volumes), a tradução de palingenesia na Bíblia por “regeneração” (Mateus 19: 28; e Tito 3: 5) é forçada para ocultar o sentido reencarnacionista do contexto. 

E não conhecemos, no cristianismo moderno, maior conhecedor da Bíblia do que Pastorino! 

A reencarnação foi aceita no cristianismo até o Concílio Ecumênico de Constantinopla (553), convocado e dirigido pelo Imperador Justiniano e à revelia da vontade do Papa Virgílio. 

Há muitas obras sobre a reencarnação na Bíblia de autores espíritas e não espíritas de vários países, entre eles o deste colunista: “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”, lançado também em inglês, nos Estados Unidos.

Muitos dizem que a palavra reencarnação não está na Bíblia, o que é verdade, pois ela só foi criada em meados do Século Dezenove por um grupo de cientistas europeus, entre eles Kardec, quando já havia dezoito séculos que a escrita da Bíblia já tinha sido terminada. Mas ela está sim na Bíblia através de outras palavras sinônimas dela ou de expressões equivalentes a ela: nascer “de novo” (“anothen”). 

E durante dois mil anos, esse advérbio grego de quantidade “anothen” foi traduzido para o português na Bíblia pela locução adverbial “de novo”. E assim se dizia no evangelho de João capítulo 3 e com ênfase nos sermões dos padres e pastores: Para se chegar ao reino de Deus, temos que “nascer de novo”. 

Mas porque a crença na reencarnação, ultimamente, cresceu muito entre os cristãos, os teólogos e tradutores das novas edições bíblicas passaram a traduzir esse advérbio grego de quantidade “anothen” pela locução adverbial de lugar portuguesa “do alto”. 

Mas essa manobra para mudar o sentido reencarnacionista tradicional do texto evangélico “de novo” para “do alto” não colou, pois o espírito que reencarna renasce também “do alto”, ou seja, dos céus ou mundo espiritual!

Quando se diz que uma pessoa fez a passagem para o mundo espiritual ou morreu, esses dois modos de falar têm o mesmo sentido. E assim, quando se diz que “palingenesia é “retorno à vida” (Dicionário Prático Ilustrado, de Portugal) e “renascimento sucessivo dos mesmos indivíduos” (Dicionário de Aurélio com Schopenhauer), os dois dicionários estão falando de modo diferente a mesma coisa, ou seja, a reencarnação. Só não vê isso quem não quer ver mesmo!    

Mas podemos interpretar também palingenesia nas traduções erradas bíblicas (Mateus 19: 28; e Tito 3: 5), como sendo o período das nossas reencarnações. E, teologicamente falando, a nossa regeneração já foi feita, antecipadamente, pelo projeto de Deus quando da criação do homem. 

Mas cabe a nós, agora, fazermos também a nossa parte, para o que, exatamente, Deus nos deu a graça de outras vidas, pois essa parte que nos toca fazer não se faz num pescar de olhos, mas durante as longas eternidades das reencarnações!

PS: José Reis Chaves apresenta o“Presença Espírita na Bíblia”na www.tvmundomaior.com.br .