segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

MODOS COM QUE NÓS, ESPÍRITAS, PERTURBAMOS A MARCHA DO ESPIRITISMO



MODOS COM QUE NÓS, ESPÍRITAS, PERTURBAMOS A MARCHA DO ESPIRITISMO
(Segundo André Luiz)

Julio Cesar de Sá Roriz

 Em Opinião Espírita (CEC - Item 29), encontramos as advertências fraternais do amigo espiritual e, para melhor visualização dos tópicos enfocados, dividimos a mensagem em 20 itens, conforme o leitor pode observar a seguir:

01. Esquecer a reforma íntima;
02. Desprezar os deveres profissionais;
03. Ausentar-se das obras de caridade;
04. Negar-se ao estudo;
05. Faltar aos compromissos sem justo motivo;
06. Rogar privilégios;
07. Escapar deliberadamente dos sofredores para não lhes prestar pequeninos serviços;
08. Colocar os princípios espíritas à disposição de fachadas sociais;
09. Especular com a Doutrina em matéria política;  
10. Sacrificar a família aos trabalhos da fé;
11. Açambarcar muitas obrigações, recusando distribuir tarefas com os demais companheiros ou não abraçar incumbência alguma, isolando-se na preguiça;         
12. Afligir-se pela conquista de aplauso;
13. Julgar-se indispensável;
14. Fugir ao exame imparcial e sereno das questões que concernem à clareza do Espiritismo, acima dos interesses e das pessoas;
15. Abdicar do raciocínio, deixando-se manobrar por movimentos ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões;
16. Ferir os outros com palavras agressivas ou deixar de auxiliá-los com palavras
equilibradas no momento preciso;
17. Guardar melindres;
18. Olvidar o encargo natural de cooperar respeitosamente com os dirigentes das instituições doutrinárias;
19. Lisonjear médiuns e tarefeiros da causa espírita;
20.Transferir aos outros responsabilidades que nos cabem.

Reunindo estes 20 quesitos em grupos, segundo a sua importância, vamos analisá-los da seguinte maneira:

GRUPO 1: reforma interior
GRUPO 2: deveres profissionais – estudo – obras de caridade - família
GRUPO 3: colocar os princípios espíritas à disposição das fachadas sociais – política – clareza do Espiritismo – abdicar do raciocínio
GRUPO 4: compromissos – privilégios – sofredores – pretensão – aplauso – julgar-se indispensável – ferir os outros – deixar de auxiliar – melindres – não cooperação – lisonja - irresponsabilidade

GRUPO 1: Esquecer a reforma interior
         
É o mais importante de todos os pontos apresentados por André Luiz.
O esquecimento da reforma interior mantém o homem estacionário.
Renovando-se, livra-se das causas que o levam a descaminhos torturantes e adquire novo alento para as conquistas morais indispensáveis. A reforma interior do homem é a finalidade da Doutrina Espírita, e o espiritista, seu fiel representante junto à sociedade, com o seu exemplo, entrega ao povo um cartão de apresentação da Doutrina que abraça. Negar-lhe, portanto, as finalidades será prestar-lhe, antes um grande desserviço.      



GRUPO 2: Deveres profissionais – estudo – obras de caridade – família

Desprezar os deveres profissionais:

No campo da profissão, o espírita se defronta, na trajetória de sua carreira, com uma bifurcação: exercício honesto da profissão ou as facilidades pouco recomendáveis para uma conquista mais rápida do sucesso, incompatíveis com o dever de ser sempre um bom profissional no exercício do ganha-pão. Seja médico, engenheiro, lavadeira, padeiro, ou seja, de qualquer profissão, impõe-se-lhe procurar exercer o seu mister com a consciência tranqüila, tanto quanto pautar suas ações dentro do bom senso que a Doutrina Espírita lhe ensina, sem se iludir com vãs promessas de ganhar riquezas num átimo de segundo e sem esforço. 

Não sendo um lobo, não se sente estimulado pelo atrativo colocado na “armadilha para lobos”. “Simples como as pombas e prudente como as serpentes”, não se deixa também manobrar nem se transformar, ingenuamente, em “saco de pancada”. Sabe que é exatamente na consolidação das bases morais que o edifício de suas realizações se erguerá, estabilizando-se em qualquer tempo. Desde que, porventura, tente desprezar os deveres profissionais, além de trair a sua condição de espírita, poderá fatalmente minar a base de futuras realizações, que, assim, permanecerão instáveis. Ao primeiro vento das intempéries humanas, quem lhe sustentará a obra? Apoiado na iniqüidade, onde encontrará sustentáculo, quando sentir-lhe a instabilidade? O dever cristão é a ética por excelência a que todo homem deve seguir prioritariamente. A Doutrina dos Espíritos, através de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, informa-nos sobre este dever, colocando a Lei de Deus como o supremo alvo referencial do Espírito.

Pode-se imaginar um espírita desprezando os deveres profissionais que lhe competem na Terra? Se não conseguir pautar-se com equilíbrio ante os acanhados códigos de ética das profissões existentes na Terra, como se sairá no exercício maior de outra ordem de deveres? Antes da questão profissional, há a questão de ética espiritual que o situa acima das convenções humanas. Ele age corretamente, não porque haja patrulhas de controle da ética profissional inspecionando-lhe o trabalho, mas por atentar no desempenho criterioso dos imperativos profissionais. No convívio social, age dentro do bem porque quer; porque se sente bem fazendo o Bem e porque sabe que esta é a melhor maneira de melhorar-se e de ajudar o próximo a também se melhorar.

Ausentar-se das obras de caridade:

A caridade, segundo a entendia Jesus (questão n.0 886 de “O Livro dos Espíritos”), tem o seguinte sentido: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. As obras de caridade por nós executadas devem, portanto, estar dentro desta tríade. A “benevolência para com todos” demonstra-nos que devemos tratar bem, de maneira indistinta, todos aqueles que estão em nossa área de influência. Todos, aqui, abrange: amigos, inimigos, doentes, obsessores, algozes, etc. A “indulgência para as imperfeições dos outros” é uma questão de justiça, já que nenhum de nós é perfeito, não podendo, portanto, exigir a perfeição de outrem. Do mesmo modo quanto às ofensas que nos são arremetidas por alguém. Perdão significa deixar de guardar mágoa e compreender que, um dia, o agressor vai melhorar seu próprio estado e arrepender-se, finalmente, das ofensas que tenha feito.

Negar-se ao estudo:

O estudo é um dos caminhos que levam o homem à perfeição. A falta de estudo encarcera-o nas grades da ignorância, obstruindo-lhe, consequentemente, o progresso moral (questão nº 780-a de “O Livro dos Espíritos”).
Temos à nossa disposição uma das maiores fontes de estudos que já se viu na face da Terra: os livros espíritas. Editados em várias línguas, há mais de um século, representam contribuições valiosíssimas de mentes encarnadas e desencarnadas que enriquecem sobre­maneira a nossa cultura. Negar-se um espírita a estudar é o mesmo que sentenciar-se voluntariamente à cegueira, pois sem o farol do conhecimento como conseguirá ir avante? Quando André Luiz nos informa que a negação ao estudo entre os espíritas pode perturbar a marcha do Espiritismo, refere-se também ao conhecimento de quanto possa enriquecer a área intelectual. Estudar é bom, discernir é melhor ainda. Passando-se tudo pelo crivo da razão, não há como temer as novidades que se apresentam, todos os dias, desafiando o homem. Com o crivo dimensionado segundo os critérios que Kardec nos ensina, o espírita poderá mergulhar as antenas nas pesquisas sem receios.

Sacrificar a família aos trabalhos da fé

Alguns confrades sentem-se missionários e abraçam tarefas importantes dentro do Movimento Espírita. Colocam todas as coisas, inclusive as da família, em segundo e terceiro planos. Conseguem entender a mensagem do Espiritismo, pregam e procuram vivenciá-la dentro da Casa Espírita, mas, em sua própria casa sentem-se nervosos com as problemáticas do cotidiano e fogem, por vezes, das pequenas responsabilidades que o lar lhes proporciona. Dentro da Instituição, procurando dar o exemplo de fraternidade, consomem horas de impressionante paciência e lucidez, participando das difíceis reuniões de diretoria ou ouvindo os necessitados que chegam ávidos por um conselho amigo, contudo, no lar, não encontram tempo para ouvir os filhos e, ante as exasperações do cônjuge que lhes reclama o concurso, explodem com mil palavras de insatisfação ou caem no extremo de achá-lo instrumento das trevas para atrapalhar-lhes o serviço que desempenham. 


Não compreendem que as noções de Espiritismo, alcançadas por suas mentes, são códigos de luz que precisam ser aplicados em todos os momentos. Não há espírita pela metade. Não se pode ser santo e demônio ao mesmo tempo.

Sacrificar a família aos trabalhos da fé é muito prejudicial ao progresso do Espiritismo junto à sociedade, porque, assim, o tarefeiro estará dando mau exemplo. A família é a base efetiva e emocional do homem. Quem quiser perder a serenidade ou apoio da Espiritualidade Maior, que lhe abandone as rédeas.

GRUPO 3: Os itens 8, 9, 14 e 15 são quesitos também muito importantes para nós que militamos no Movimento Espírita. Devido à sua especificidade, colocamo-los no grupo 3.

Vamos, outra vez, dispor estes quatro itens de maneira didática para que o leitor estudioso possa, por sua vez, formar idéia da importância destas proposições de André Luiz:
08. Colocar os princípios espíritas à disposição de fachadas sociais;
09. Especular com a Doutrina em matéria política;
14.Fugir ao exame imparcial e sereno das questões que concernem à clareza do Espiritismo, acima dos interesses e das pessoas;
15. Abdicar do raciocínio, deixando-se manobrar por movimentos ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões;

Colocar os princípios espíritas à disposição de fachadas sociais

Certa feita, encontramos em uma cidade uma Instituição congênere, que trabalhava com um orfanato. Como na razão social o nome ESPÍRITA não aparecia, perguntamos ao dirigente (notoriamente espiritista) por que se lhe omitia a qualificação, já que a Casa seguia os princípios kardequianos e era formada por espíritas. Ele nos respondeu que era para poder garantir os subsídios que, fatalmente, seriam negados caso tivessem que fazer constar o qualificativo identificador.

Vejamos que, a continuar dessa maneira, um dia, o dirigente vai ter que abjurar do Es­piritismo. Se, por acaso, continuar a trabalhar dentro dos padrões da Doutrina, com certeza sofrerá outras pressões ou ameaças de se lhe retirarem as subvenções.

Agir assim significa submeter a pureza da Doutrina Espírita ao casuísmo. Podemos imaginar, em nome do modismo ou para granjear-se as atenções de alguém influente e bem situado financeiramente, deva um espírita deixar-se envolver ou consentir em envolver uma Casa Espírita nos emaranhados e supérfluos movimentos do “soçaite”, que são mais próprios àqueles que gostam de estar na “crista da onda”?

Nenhum confrade sincero aceitará abrir mão dos seus princípios para se engajar em conluio de qualquer espécie, mesmo que aparentemente ofereça vantagens irrecusáveis. Ele é firme nos seus propósitos e não se distancia jamais da diretriz evangélica que o Consolador lhe oferece.



Especular com a Doutrina Espírita em matéria política

O espírita experiente não se atira na política ingenuamente para tentar salvá-la da ruína em que quase sempre se encontra. A política tem objetivos próprios que, na maioria dos casos, não combinam com a finalidade da Doutrina.

Isto não quer dizer que o espírita deva ser um alienado social que viva ao largo, sem se incomodar com os problemas que convulsionam o mundo. Não, o espírita não é um alienado! Pelo contrário, é bastante consciente da situação vigente e muito sofre com as injustiças sociais que grassam pelo mundo.

Ele combate o orgulho e o egoísmo (questão n.0 785 de “O Livro dos Espíritos”), pro­pondo ao homem, a partir de sua própria conduta, a busca do amor legítimo que cobre a multidão de pecados e que é capaz de construir uma sociedade mais justa e feliz. Utopia? Não! Uma realidade que aos poucos o homem vai absorvendo e aplicando no dia-a-dia. Kardec nos informa que, em matéria de política, teremos na Terra modelo mais aperfeiçoado do que todos os sistemas e regimes vigentes: a aristocracia da inteligência moralizada (“Obras Póstumas” — cap. “As Aristocracias”) (aristo: melhor; cracia: poder, governo). Há que, portanto, desenvolver estas duas asas - inteligência e moral evangélica - para se conseguir transformar a Terra, definitivamente, em mundo de regeneração. Esta é a política do espírita.

A política em si mesma não é perniciosa. 

Um espírita deve perseguir uma meta política, de acordo com suas tendências? Lógico que sim! É uma atividade como qualquer outra e que, energizada pelos valores que o Espiritismo oferece, pode contribuir para o progresso de todos. Contudo, não se misture Doutrina Espírita com política, pois o Espiritismo não se detém na busca de uma cor partidária ou de uma bandeira ideológica qualquer. O seu rumo é o do Evangelho de Jesus, e quem quiser evoluir mais rapidamente e auxiliar o progresso geral, que lhe siga as pegadas.

Fugir ao exame imparcial e sereno das questões

Esta proposição é de caráter geral, mas cabe perfeitamente no que enfocamos no ítem anterior.
Kardec ensina-nos de maneira muito clara o modo de examinar todas as novas questões que nos são apresentadas. A imparcialidade e a serenidade — os dois requisitos apresentados por André Luiz — são de suma importância para que não se obscureça o postulado espírita com interpretações que vêm atender mais a interesses particulares do que à causa.
No capítulo XXVII de “O Livro dos Médiuns”, analisando as contradições, o Codificador identifica as suas fontes: os homens e os Espíritos (item 297). Mais adiante (Item 298) ele nos diz que as contradições de origem humana que surgiram, em três quartas partes caíram diante de um estudo mais sério e profundo.
Eis aí o antídoto para o erro das más interpretações e para as mistificações na seara espírita: o exame imparcial, sereno, sério e profundo de todas as proposições e eventos que surjam no cenário da Doutrina.

Abdicar do raciocínio

Quem abdica de raciocinar e se deixa manobrar por movimento ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões, sofre muito na vida e logo cal na desilusão quando vê que foi enganado por mentes perversas ou fanáticas. Daí, para o materialismo e a descrença de tudo, é um passo.
Seria muito triste observar-se, dentro do Movimento Espírita, instituições que fomentassem o endeusamento de médiuns e de pessoas. Estas são seguidas, cegamente, por um contingente de criaturas de boa-vontade, que têm fé, mas que, infelizmente, abdicam de racio­cinar. Isto porque os preconceitos e as ilusões, conforme nos informa André Luiz, ensombram a área do conhecimento, como nuvens negras a empanar a luz do Sol. O conhecimento é a grande luz que dilui estas nuvens e Ilumina toda a grande seara onde, plantando-se o estudo, se colhe discernimento. E onde o discer­nimento aflora, o amor logo é mais bem compreendido, pois é o seu perfume por excelência.

GRUPO 4: Faltar aos compromissos — rogar privilégios — evitar sofredores – fazer concessões à pretensão e à preguiça — andar á busca de aplausos — julgar-se indispensável —  ferir os outros ou deixar de au­xiliá-los — guardar melindres — retrair-se á não cooperação — dar-se á lisonja e à irresponsabilidade:

São defeitos que amiúde encontramos em nosso meio e em nosso próprio relacionamento, por decorrência do nosso acanhado adiantamento moral. Contudo, com um pouco de esforço de cada um, conseguiremos suplantá-los, paulatinamente, não só no convívio dentro do Movimento Espírita, mas também no contexto social.

 
(transcrito de Reformador,da FEB, de junho de 1982)

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