MODOS COM QUE NÓS, ESPÍRITAS,
PERTURBAMOS A MARCHA DO ESPIRITISMO
(Segundo André Luiz)
Julio Cesar de Sá Roriz
Em Opinião
Espírita (CEC - Item 29), encontramos as advertências fraternais do amigo
espiritual e, para melhor visualização dos tópicos enfocados, dividimos a
mensagem em 20 itens, conforme o leitor pode observar a seguir:
01.
Esquecer a reforma íntima;
02.
Desprezar os deveres profissionais;
03.
Ausentar-se das obras de caridade;
04.
Negar-se ao estudo;
05. Faltar aos compromissos sem justo motivo;
06.
Rogar privilégios;
07. Escapar deliberadamente dos sofredores para não
lhes prestar pequeninos serviços;
08. Colocar os princípios espíritas à disposição de
fachadas sociais;
09. Especular com a Doutrina em matéria política;
10.
Sacrificar a família aos trabalhos da fé;
11. Açambarcar muitas obrigações, recusando distribuir
tarefas com os demais companheiros ou não abraçar incumbência alguma,
isolando-se na preguiça;
12.
Afligir-se pela conquista de aplauso;
13.
Julgar-se indispensável;
14. Fugir ao exame imparcial e sereno das questões que
concernem à clareza do Espiritismo, acima dos interesses e das pessoas;
15. Abdicar do raciocínio, deixando-se manobrar por
movimentos ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do
esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões;
16. Ferir os outros com palavras agressivas ou deixar
de auxiliá-los com palavras
equilibradas no momento preciso;
equilibradas no momento preciso;
17.
Guardar melindres;
18. Olvidar o encargo natural de cooperar
respeitosamente com os dirigentes das instituições doutrinárias;
19. Lisonjear médiuns e tarefeiros da causa espírita;
20.Transferir aos outros responsabilidades que nos
cabem.
Reunindo
estes 20 quesitos em grupos, segundo a sua importância, vamos analisá-los da
seguinte maneira:
GRUPO 1: reforma interior
GRUPO 2: deveres profissionais – estudo – obras de
caridade - família
GRUPO 3: colocar os princípios espíritas à disposição
das fachadas sociais – política – clareza do Espiritismo – abdicar do
raciocínio
GRUPO 4: compromissos – privilégios – sofredores –
pretensão – aplauso – julgar-se indispensável – ferir os outros – deixar de
auxiliar – melindres – não cooperação – lisonja - irresponsabilidade
GRUPO 1:
Esquecer a reforma interior
É o mais importante de todos os pontos apresentados
por André Luiz.
O esquecimento da reforma interior mantém o homem
estacionário.
Renovando-se, livra-se das causas que o levam a
descaminhos torturantes e adquire novo alento para as conquistas morais
indispensáveis. A reforma interior do homem é a finalidade da Doutrina
Espírita, e o espiritista, seu fiel representante junto à sociedade, com o seu
exemplo, entrega ao povo um cartão de apresentação da Doutrina que abraça.
Negar-lhe, portanto, as finalidades será prestar-lhe, antes um grande
desserviço.
GRUPO 2:
Deveres profissionais – estudo – obras de caridade – família
Desprezar os
deveres profissionais:
No campo da profissão, o espírita se
defronta, na trajetória de sua carreira, com uma bifurcação: exercício honesto
da profissão ou as facilidades pouco recomendáveis para uma conquista
mais rápida do sucesso, incompatíveis com o dever de ser sempre um bom
profissional no exercício do ganha-pão. Seja médico, engenheiro, lavadeira,
padeiro, ou seja, de qualquer profissão, impõe-se-lhe procurar exercer o seu
mister com a consciência tranqüila, tanto quanto pautar suas ações dentro do
bom senso que a Doutrina Espírita lhe ensina, sem se iludir com vãs promessas
de ganhar riquezas num átimo de segundo e sem esforço.
Não sendo um lobo, não
se sente estimulado pelo atrativo colocado na “armadilha para lobos”. “Simples
como as pombas e prudente como as serpentes”, não se deixa também manobrar nem
se transformar, ingenuamente, em “saco de pancada”. Sabe que é exatamente na
consolidação das bases morais que o edifício de suas realizações se erguerá,
estabilizando-se em qualquer tempo. Desde que, porventura, tente desprezar os
deveres profissionais, além de trair a sua condição de espírita, poderá
fatalmente minar a base de futuras realizações, que, assim, permanecerão
instáveis. Ao primeiro vento das intempéries humanas, quem lhe sustentará a
obra? Apoiado na iniqüidade, onde encontrará sustentáculo, quando sentir-lhe a
instabilidade? O dever cristão é a ética por excelência a que todo homem deve
seguir prioritariamente. A Doutrina dos Espíritos, através de “O Evangelho
segundo o Espiritismo”, informa-nos sobre este dever, colocando a Lei de Deus
como o supremo alvo referencial do Espírito.
Pode-se imaginar um espírita desprezando
os deveres profissionais que lhe competem na Terra? Se não conseguir pautar-se
com equilíbrio ante os acanhados códigos de ética das profissões existentes na
Terra, como se sairá no exercício maior de outra ordem de deveres? Antes da
questão profissional, há a questão de ética espiritual que o situa acima das
convenções humanas. Ele age corretamente, não porque haja patrulhas de controle
da ética profissional inspecionando-lhe o trabalho, mas por atentar no
desempenho criterioso dos imperativos profissionais. No convívio social, age dentro
do bem porque quer; porque se sente bem fazendo o Bem e porque sabe que esta é
a melhor maneira de melhorar-se e de ajudar o próximo a também se melhorar.
Ausentar-se das obras de caridade:
A caridade, segundo a entendia Jesus (questão n.0 886 de “O Livro
dos Espíritos”), tem o seguinte sentido: “Benevolência para com todos,
indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. As obras de
caridade por nós executadas devem, portanto, estar dentro desta tríade. A
“benevolência para com todos” demonstra-nos que devemos tratar bem, de maneira
indistinta, todos aqueles que estão em nossa área de influência. Todos, aqui, abrange: amigos, inimigos,
doentes, obsessores, algozes, etc. A “indulgência para as imperfeições dos
outros” é uma questão de justiça, já que nenhum de nós é perfeito, não podendo,
portanto, exigir a perfeição de outrem. Do mesmo modo quanto às ofensas que nos
são arremetidas por alguém. Perdão significa deixar de guardar mágoa e
compreender que, um dia, o agressor vai melhorar seu próprio estado e
arrepender-se, finalmente, das ofensas que tenha feito.
Negar-se ao estudo:
O estudo é um dos caminhos que levam o homem à perfeição. A falta de
estudo encarcera-o nas grades da ignorância, obstruindo-lhe, consequentemente,
o progresso moral (questão nº 780-a de “O Livro dos Espíritos”).
Temos
à nossa disposição uma das maiores fontes de estudos que já se viu na face da
Terra: os livros espíritas. Editados em várias línguas, há mais de um século,
representam contribuições valiosíssimas de mentes encarnadas e desencarnadas
que enriquecem sobremaneira a nossa cultura. Negar-se um espírita a estudar é
o mesmo que sentenciar-se voluntariamente à cegueira, pois sem o farol do
conhecimento como conseguirá ir avante? Quando André Luiz nos informa que a
negação ao estudo entre os espíritas pode perturbar a marcha do Espiritismo,
refere-se também ao conhecimento de quanto possa enriquecer a área intelectual.
Estudar é bom, discernir é melhor ainda. Passando-se tudo pelo crivo da razão,
não há como temer as novidades que se apresentam, todos os dias, desafiando o
homem. Com o crivo dimensionado segundo os critérios que Kardec nos ensina, o
espírita poderá mergulhar as antenas nas pesquisas sem receios.
Sacrificar a família aos trabalhos
da fé
Alguns confrades sentem-se missionários e abraçam tarefas importantes
dentro do Movimento Espírita. Colocam todas as coisas, inclusive as da família,
em segundo e terceiro planos. Conseguem entender a mensagem do Espiritismo,
pregam e procuram vivenciá-la dentro da Casa Espírita, mas, em sua própria casa
sentem-se nervosos com as problemáticas do cotidiano e fogem, por vezes, das
pequenas responsabilidades que o lar lhes proporciona. Dentro da Instituição,
procurando dar o exemplo de fraternidade, consomem horas de impressionante
paciência e lucidez, participando das difíceis reuniões de diretoria ou ouvindo
os necessitados que chegam ávidos por um conselho amigo, contudo, no lar, não
encontram tempo para ouvir os filhos e, ante as exasperações do cônjuge que lhes
reclama o concurso, explodem com mil palavras de insatisfação ou caem no
extremo de achá-lo instrumento das trevas para atrapalhar-lhes o serviço que
desempenham.
Não compreendem que as noções de Espiritismo, alcançadas por suas
mentes, são códigos de luz que precisam ser aplicados em todos os momentos. Não
há espírita pela metade. Não se pode ser santo e demônio ao mesmo tempo.
Sacrificar a família aos trabalhos da fé
é muito prejudicial ao progresso do Espiritismo junto à sociedade, porque,
assim, o tarefeiro estará dando mau exemplo. A família é a base efetiva e
emocional do homem. Quem quiser perder a serenidade ou apoio da Espiritualidade
Maior, que lhe abandone as rédeas.
GRUPO 3: Os
itens 8, 9, 14 e 15 são quesitos também muito importantes para nós que
militamos no Movimento Espírita. Devido à sua especificidade, colocamo-los no
grupo 3.
Vamos, outra vez, dispor estes quatro itens de maneira
didática para que o leitor estudioso possa, por sua vez, formar idéia da
importância destas proposições de André Luiz:
08. Colocar os princípios espíritas à disposição de
fachadas sociais;
09. Especular com a Doutrina em matéria política;
14.Fugir ao exame imparcial e sereno das questões que
concernem à clareza do Espiritismo, acima dos interesses e das pessoas;
15. Abdicar do raciocínio, deixando-se manobrar por
movimentos ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do
esclarecimento espírita com preconceitos e ilusões;
Colocar os
princípios espíritas à disposição de fachadas sociais
Certa feita, encontramos em uma cidade uma Instituição congênere, que
trabalhava com um orfanato. Como na razão social o nome ESPÍRITA não aparecia,
perguntamos ao dirigente (notoriamente espiritista) por que se lhe omitia a
qualificação, já que a Casa seguia os princípios kardequianos e era formada por
espíritas. Ele nos respondeu que era para poder garantir os subsídios que,
fatalmente, seriam negados caso tivessem que fazer constar o qualificativo
identificador.
Vejamos que, a continuar dessa maneira, um dia, o dirigente vai ter que
abjurar do Espiritismo. Se, por acaso, continuar a trabalhar dentro dos
padrões da Doutrina, com certeza sofrerá outras pressões ou ameaças de se lhe
retirarem as subvenções.
Agir
assim significa submeter a pureza da Doutrina Espírita ao casuísmo. Podemos
imaginar, em nome do modismo ou para granjear-se as atenções de alguém
influente e bem situado financeiramente, deva um espírita deixar-se envolver ou
consentir em envolver uma Casa Espírita nos emaranhados e supérfluos movimentos
do “soçaite”, que são mais próprios àqueles que gostam de estar na “crista da
onda”?
Nenhum confrade sincero aceitará abrir
mão dos seus princípios para se engajar em conluio de qualquer espécie, mesmo
que aparentemente ofereça vantagens irrecusáveis. Ele é firme nos seus
propósitos e não se distancia jamais da diretriz evangélica que o Consolador
lhe oferece.
Especular com a Doutrina Espírita
em matéria política
O espírita experiente não se atira na política ingenuamente para tentar
salvá-la da ruína em que quase sempre se encontra. A política tem objetivos
próprios que, na maioria dos casos, não combinam com a finalidade da Doutrina.
Isto não quer dizer que o espírita deva ser um
alienado social que viva ao largo, sem se incomodar com os problemas que
convulsionam o mundo. Não, o espírita não é um alienado! Pelo contrário, é
bastante consciente da situação vigente e muito sofre com as injustiças sociais
que grassam pelo mundo.
Ele combate o orgulho e o egoísmo (questão n.0 785 de “O Livro
dos Espíritos”), propondo ao homem, a partir de sua própria conduta, a busca
do amor legítimo que cobre a multidão de pecados e que é capaz de construir uma
sociedade mais justa e feliz. Utopia? Não! Uma realidade que aos poucos o homem
vai absorvendo e aplicando no dia-a-dia. Kardec nos informa que, em matéria de
política, teremos na Terra modelo mais aperfeiçoado do que todos os sistemas e
regimes vigentes: a aristocracia da inteligência moralizada (“Obras Póstumas” —
cap. “As Aristocracias”) (aristo: melhor; cracia: poder, governo). Há que,
portanto, desenvolver estas duas asas - inteligência e moral evangélica - para
se conseguir transformar a Terra, definitivamente, em mundo de regeneração.
Esta é a política do espírita.
A política em si mesma não é perniciosa.
Um
espírita deve perseguir uma meta política, de acordo com suas tendências?
Lógico que sim! É uma atividade como qualquer outra e que, energizada pelos
valores que o Espiritismo oferece, pode contribuir para o progresso de todos.
Contudo, não se misture Doutrina Espírita com política, pois o Espiritismo não
se detém na busca de uma cor partidária ou de uma bandeira ideológica qualquer.
O seu rumo é o do Evangelho de Jesus, e quem quiser evoluir mais rapidamente e
auxiliar o progresso geral, que lhe siga as pegadas.
Fugir ao exame imparcial e sereno
das questões
Esta proposição é de caráter geral, mas cabe perfeitamente no que
enfocamos no ítem anterior.
Kardec
ensina-nos de maneira muito clara o modo de examinar todas as novas questões
que nos são apresentadas. A imparcialidade e a serenidade — os dois requisitos
apresentados por André Luiz — são de suma importância para que não se obscureça
o postulado espírita com interpretações que vêm atender mais a interesses
particulares do que à causa.
No capítulo XXVII de “O Livro
dos Médiuns”, analisando as contradições, o Codificador identifica as suas
fontes: os homens e os Espíritos (item 297). Mais adiante (Item 298) ele nos
diz que as contradições de origem humana que surgiram, em três quartas partes
caíram diante de um estudo mais sério e profundo.
Eis
aí o antídoto para o erro das más interpretações e para as mistificações na
seara espírita: o exame imparcial, sereno, sério e profundo de todas as
proposições e eventos que surjam no cenário da Doutrina.
Abdicar do raciocínio
Quem abdica de raciocinar e se deixa manobrar por movimento ou criaturas
que tentam sutilmente ensombrar a área do esclarecimento espírita com
preconceitos e ilusões, sofre muito na vida e logo cal na desilusão quando vê
que foi enganado por mentes perversas ou fanáticas. Daí, para o materialismo e
a descrença de tudo, é um passo.
Seria
muito triste observar-se, dentro do Movimento Espírita, instituições que
fomentassem o endeusamento de médiuns e de pessoas. Estas são seguidas,
cegamente, por um contingente de criaturas de boa-vontade, que têm fé, mas que,
infelizmente, abdicam de raciocinar. Isto porque os preconceitos e as ilusões,
conforme nos informa André Luiz, ensombram a área do conhecimento, como nuvens
negras a empanar a luz do Sol. O conhecimento é a grande luz que dilui estas
nuvens e Ilumina toda a grande seara onde, plantando-se o estudo, se colhe
discernimento. E onde o discernimento aflora, o amor logo é mais bem
compreendido, pois é o seu perfume por excelência.
GRUPO 4: Faltar aos compromissos —
rogar privilégios — evitar sofredores – fazer concessões à pretensão e à
preguiça — andar á busca de aplausos — julgar-se indispensável — ferir os outros ou deixar de auxiliá-los —
guardar melindres — retrair-se á não cooperação — dar-se á lisonja e à
irresponsabilidade:
São defeitos que amiúde encontramos em
nosso meio e em nosso próprio relacionamento, por decorrência do nosso acanhado
adiantamento moral. Contudo, com um pouco de esforço de cada um, conseguiremos
suplantá-los, paulatinamente, não só no convívio dentro do Movimento Espírita,
mas também no contexto social.
(transcrito de Reformador,da FEB,
de junho de 1982)
Nenhum comentário:
Postar um comentário